Hoje, o papa Francisco (Jorge Bergoglio) completa cinco anos de pontificado. Tempo suficiente para ter surpreendido o mundo, por incontáveis vezes, nesse curto período. É providencial que num dos momentos mais enevoados e regressivos da história mundial – marcado por intolerâncias, violências, apartação social, desigualdades e injustiças excessivas – uma voz mansa, mas firme, lembre ao mundo os caminhos da tolerância, da compaixão e do respeito ao outro, como a única via possível de um convívio humano e pacífico.Para ter credibilidade, Francisco procurou falar mais através de gestos concretos. Apresentou-se como bispo de Roma e, diante de seus diocesanos, pediu-lhes a bênção para sua missão. Enfatizou assim o sacerdócio real do povo cristão (falando para dentro de sua Igreja) e deixou expresso para a Igreja Universal (que vai além da Romana) a intenção de Roma se apresentar apenas como Igreja destinada a “presidir à caridade” em comunhão com as demais igrejas não-romanas, e se aproximar o quanto possível da estruturação hierárquica existente no Primeiro Milênio, quando o Papa de Roma não tinha jurisdição universal sobre as outras igrejas (antes da divisão entre Oriente e Ocidente cristãos).Simultaneamente, fortaleceu a aproximação com as religiões não-cristãs (diálogo inter-religioso) para uma ação comum em favor dos valores espirituais, da paz e da justiça social no mundo. Não só: reconhecendo, tacitamente, a validade da experiência espiritual do outro, dentro da compreensão de que, por cima das fronteiras religiosas, dos dogmas e dos símbolos de cada religião (e no fundo da experiência espiritual autêntica) todos se deparam com a Realidade Única. Essa compreensão não significa sincretismo religioso, mas respeito à busca espiritual do outro, tomando como metáfora as trilhas palmilhadas por escaladores de um monte, a partir de encostas diferentes, mas que confluem para o mesmo pico. Esse entendimento resulta em tolerância e compreensão mútuas.Para nós, brasileiros, essa mensagem tem um valor fundamental no presente contexto em que intolerância e exclusivismo, inclusive religioso, campeiam entre nós de forma espantosa e tentam invadir a dimensão institucional para moldar a sociedade segundo uma camisa de força “semiteocrática”, intolerante, preconceituosa e hipócrita. Misturar credo religioso e política partidária é receita certa para a tragédia, como revela a História. O Brasil deve estar atento para não se deixar manietar por esse tipo de regressismo obscurantista. Como filho da América Latina, Francisco sabe o quanto são enganosos esses caminhos.
(Foto – Reuters)
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